Ruptura
Existem duas maneiras de evoluir, uma por continuidade, em que se vão acumulando experiências e conhecimentos e outra, por ruptura, neste caso, a mudança é mais rápida, embora não se traduza necessariamente numa melhoria das condições anteriores. Podemos ficar pior do que antes, melhor, ou simplesmente numa situação diferente.
Com 2020, o ano Covid19, é seguro dizer que nada será como antes, existiu uma clara ruptura.
No início, soube-se que, lá longe, do outro lado do mundo, havia uma nova gripe que matava muita gente. Os chineses chegaram a fechar cidades onde existiam infectados.
As recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) eram muito brandas e os responsáveis pela saúde do nosso País diziam que era uma situação pouco importante, coisa só para chineses. Para além do mais, não era mais perigosa do que a gripe que aparece por cá todos os anos e que matava muito mais. Quanto a máscaras, era um exagero desnecessário.
Ao longo do tempo foi-se vendo que a situação era bastante mais séria do que se pensava. O Governo decidiu tomar medidas e o Presidente da República decretou o estado de emergência. Medidas sábias que só pecaram por tardias.
Todo um novo modo de vida foi sendo criado. As famílias voltaram a organizar-se. Os casais começaram a conviver durante muito mais horas, os filhos menores passaram a ir às aulas sem sair de casa e os contactos com tudo o que ficava do lado de fora da porta de casa foram praticamente eliminados.
Foi também um tempo de reencontros. Com nós próprios e com os mais próximos. Nem sempre fáceis.
Por outro lado, surgiram saudades. Daquele abraço amigo, das consultas, dos pacientes, dos almoços fora, das visitas aos familiares e de muitas outras coisas que nem tinha percebido que me faziam falta.
Acabou o estado de emergência e começou o de calamidade, mais leve.
Temos de ter consciência que não podemos deixar de ter o máximo dos cuidados para que não se continuem a sacrificar vidas e se consiga sair desta pandemia o menos mal possível.